Uma das mudanças é que, se antes a procura principal era por imóveis mais compactos e vivência em espaços compartilhados, a tendência passou a ser pela busca de ambientes maiores.
Assim como praticamente todos os segmentos econômicos, o mercado imobiliário também mudou com a pandemia. E muito. A transformação é tanta que já se preveem tendências inéditas para o setor provocadas, sobretudo, pela necessidade de isolamento social. Se antes a vida era prioritariamente outdoor (trabalho e trânsito), com a quarentena as pessoas passaram a ter uma relação mais intensa e prolongada com suas próprias moradias gerando, assim, novas descobertas e demandas no jeito de morar.
Numa observação atenta a essas mudanças, podemos traçar quatro eixos que deverão nortear o “novo normal” do mercado imobiliário daqui pra frente. O primeiro deles está num comportamento reverso ao que vinha sendo observado. Se antes a procura maior era por imóveis mais compactos e vivência em espaços compartilhados, a tendência passou a ser pela busca de ambientes maiores, seja para abrigar a família com mais conforto e segurança, seja para reorganizar a casa por conta da chegada do home-office.
Também nesse eixo estão os profissionais mais maduros e com carreiras mais consolidadas, que optam por moradias em locais distantes dos centros urbanos. Com a flexibilização do home office e filhos já criados, eles podem usufruir de áreas mais amplas, com quintal, lazer e exclusividade.
O segundo eixo, relacionado à mobilidade, abarca os jovens solteiros ou os casados com filhos pequenos. Ainda muito ativos na vida profissional, eles precisam morar próximos ao trabalho e a escolas, comércio, utilidades e buscam lazer, praticidade e qualidade de vida.
A praticidade dá o tom, também, ao terceiro eixo e, embora não seja exclusiva da pandemia, foi bastante impactada por ela. Neste grupo, estão os que optam por imóveis por assinatura, um fenômeno comum em grandes centros e que oferece a locação de casas e apartamentos por meio de serviço de streaming, como a Netflix. Tudo de forma desburocratizada e sem fiador. O modelo diferenciado possibilita ter acesso a uma casa que acompanhe cada momento da vida, com liberdade de morar onde e por quanto tempo quiser.
Por fim, temos a tecnologia e as facilidades que ela proporciona. Neste eixo, estão os clientes que buscam por imóveis que agreguem soluções ao seu dia a dia, com facilidades para pagamento e compra, serviços diversos como faxina, saúde e beleza, aplicativos compatíveis com transporte, lazer e pós-venda.
Esses quatro eixos têm despertado atenção especial dos setores produtivo e financeiro. Alguns fundos de investimento, por exemplo, apostam no retrofit e têm comprado, reformado e adequado os imóveis às novas demandas para futura venda ou locação.
Todo esse movimento nos faz prever bons e desafiadores tempos para o mercado imobiliário, um setor com forte potencial de venda por conta do déficit habitacional no país, hoje da ordem de 7,7 milhões de unidades e que deve chegar a 20 milhões de moradias até 2030, demandando investimentos da ordem de R$ 2 trilhões.
Se as tendências estão totalmente certas, ainda não se pode dizer, mas uma coisa está clara: a atenção a estes eixos é fundamental para garantir o pleno atendimento das demandas da sociedade. Uma sociedade que mudou, mas mantém o velho e antigo sonho de morar com qualidade.
O autor é diretor da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Espírito Santo (Ademi-ES), presidente da Associação Empresarial de Cariacica e diretor da VTO Polos Empresariais
Fonte: A Gazeta